sexta-feira, 9 de abril de 2010

Com licença, eu posso entrar? Eu sei que a casa também é minha, mas ela já tem tanto de nós que nem me sinto mais à vontade pra chegar assim sem avisar, sem marcar hora, sem ao menos um prefácio. Não é fácil. Eu só vim buscar umas coisas, não pretendo me demorar. É só o tempo de tomar um café, de separar as xícaras, os discos, os livros. A secretária eletrônica transmite os recados em vozes familiares. Substantivos, verbos, sujeitos e predicados. Orações mal formuladas. Sinto falta do nosso silêncio à dois. Sinto falta dos adjetivos nas mensagens que ouço. Eles devem estar nos meus textos da madrugada. Todos traduzem a fé em nós. Afinal, onde termina a música e onde começa a história? Afetos arquivados em pastas de computador. Deixarei um lembrete da próxima vez: "salvar nossa fé em disquete". Eu sei que a culpa também é minha, mas ela já tem tanto de nós que nem sinto a vontade de partir assim sem avisar, sem marcar hora, sem ao menos um prefácio. Não é fácil. Com licença, eu posso ficar?

(A Fé em Nós - Maíra Viana)

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