sábado, 31 de julho de 2010

Ontem, no entanto, perdi durante horas e horas a minha montagem humana. Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdido. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação. Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação a ser? e no entanto não há outro caminho. Como se explica que meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? como é que se explica que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra coisa - como se antes eu tivesse sabido o que era.
Trago, fechado no peito, um baú de guardados. Jóias, gemas e pérolas que podem ofuscar meus olhos. Pedras, perdas, penas que conseguem represar meu rio. Mas basta um som de flauta, um dedilhar de piano, o acorde de um violão, o cristal de uma voz e todas as comportas se abrem e me descobrem, levando de roldão tudo que cabe nesse cofre desvendado, o coração.
Jóias, gemas, pérolas, pedras, perdas, penas. Brilhos que se confundem no que sou. Rolam nas águas e me levam para perto, bem mais perto de onde estou.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

árvore frondosa
mas é na seca
que o pássaro pousa

terça-feira, 27 de julho de 2010

Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia, e como fosse trazido à sua presença um pirata que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém, ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim. - Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? - Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. (...) O ladrão que furta para comer não vai, nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera (...) Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.
(Padre Antônio Vieira)

sábado, 24 de julho de 2010

Ainda não percebera que na verdade não estava distraído, estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Ó tu do meu amor fiel traslado,
Mariposa entre as chamas consumida,
Pois, se à força do ardor perdes a vida,
A violência do fogo me há prostrado;

Tu de amante o teu fim hás encontrado,
Essa flama girando apetecida;
Eu girando uma penha endurecida,
No fogo que exalou morro abrasado.

Ambos de firmes anelando chamas,
Tu a vida deixas, eu a morte imploro,
Nas constâncias iguais, iguais nas chamas.

Mas ai! que a diferença entre nós choro,
Pois acabando tu ao fogo que amas,
Eu morro sem chegar à luz que adoro.

(Gregório de Matos, Obra Poética. Ed. de James Amado, Rio de Janeiro, Record, 1990. V.1, p. 425.)


Depois que encontrei esse soneto no meio da apostila, descobri que vale a pena estudar literatura.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Não são as catástrofes, assassinatos, mortes, doenças, que nos envelhecem e nos matam. É a forma como as pessoas olham e riem, e apressam os passos para os ônibus.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Quando dois corpos em temperaturas diferentes são colocados em contato térmico, espontaneamente, há transferência de energia térmica do corpo de maior para o de menor temperatura.


É o que me falta...
Contato.

domingo, 11 de julho de 2010

— Eu não queria ser casa.
— Como?
— Queria ser um apartamento.
— Sei, mas que tipo?
Ele suspirou:
— Uma quitinete. Sem telefone.

quarta-feira, 7 de julho de 2010


O importante não são quantas pessoas telefonam pra você, nem com quem você saiu ou está saindo. Também não importa se você nunca namorou ou com quem namorou. O importante não é quem você beijou. O importante não são seus sapatos, nem seus cabelos, nem a cor da sua pele, nem onde você mora, que esporte você pratica ou o colégio que freqüenta. Na verdade, o importante não são suas notas, seu dinheiro, suas roupas ou se passou na faculdade. Na vida, o importante não é ser aceito ou não pelos outros. O importante na vida é quem você ama e quem você fere. É como você se sente em relação a você mesmo. É confiança, felicidade e compaixão. É ficar do lado dos amigos e substituir o ódio por amor. O importante na vida é evitar a inveja, não querer o mal dos outros, superar a ignorância e construir a confiança. É o que você diz e o significado de suas palavras. É gostar das pessoas pelo que elas são e não pelo que têm, fingem ou pretendem ser. Isso é o importante.

terça-feira, 6 de julho de 2010

"Eu quero ficar perto de tudo que acho certo até o dia em que eu mudar de opinião."

Me faço de escolhas. Escolho ter um nariz de palhaço, uma rede na varanda, um abraço apertado. Escolho morar na praia, andar descalço, correr contra o vento e ter crise de risos na areia. Escolho passar longas temporadas em Campos do Jordão, sentir o frio que tanto me aconchega, tomar café bem quente todas as manhãs e acabar o dia com mais café... só que em frente a lareira. Escolho viagens intermináveis, Grécia, República Tcheca, Londres, Alemanha, Peru, França... rodar o mundo. Escolho gritar bem alto, acordar o planeta pra mostrar o quanto estou feliz! Escolho amar, amar, amar e se sobrar tempo... ser amado. Escolho ter pais orgulhosos. Escolho vencer. Eu escolho poder escolher.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

"Eu sou essa gente que se dói inteira porque não vive só na superfície das coisas." Marla de Queiroz